sexta-feira, 13 de agosto de 2010

FOGO, FOME E ALEGRIA


Cresci vendo minha mãe cozinhar sem prazer. Embora acertasse de vez em quando, ela cozinhava "por obrigação", como gostava de dizer.

Quando eu era criança, não havia essa moda de gastronomia. Cozinhar era coisa de empregada ou de "Dona de casa", essa última expressão utilizada num sentido pejorativo.

Era "cool" uma mulher não saber e/ou não gostar de cozinhar e ainda encher a boca pra dizer: "não sei cozinhar !". (Puro resquício feminista: de quem foi mesmo a idéia de queimar o sutiã ?)

Hoje vive-se outro extremo: os chefes de cozinha - homens ou mulheres - são reverenciados como se trabalhassem na cura do câncer. Estilosos, talentosos, bem sucedidos, estão em todas as mídias. Deuses, praticamente.

Exageros e modismos à parte, essa mudança de comportamento me agrada e interessa.

Tenho uma filha de quatro anos. Certa vez ela "varria" a sala com sua vassoura de brinquedo quando alguém - não lembro quem - disse " que absurdo, brincando de varrer a casa, ela quer ser dona de casa ?!". Eu tive o bom senso de ignorar. Como assim, absurdo ? Devo surtar se minha filha quer brincar de casinha ou de boneca ? Do que ela deve brincar, de executiva ?

Faz tempo,eu vi uma entrevista com o Paulo Autran e sua esposa na Marília Gabriela. Uma hora a Gabi - a entrevistadora, não minha filha - perguntou: "Qual de vocês é mais feliz, mais bem humorado ?" E a esposa dele respondeu: "Sou eu ! Eu gosto de mais coisas que ele ! Adoro passar roupa, por exemplo !"


É aí que eu quero chegar: quanto mais minha filha gostar de fazer coisas que terá que fazer no futuro - em maior ou menor grau - melhor pra ela. Acho maravilhoso ela querer se aventurar comigo na cozinha (e a palavra é essa, se aventurar) e brincar de lavar louça, por exemplo.

E de novo, modismos à parte - agora ando numas de "querer gostar" de cozinhar também. Não domino e às vezes sou "nonsense", mas gosto de tentar. De experimentar. Sem neuras, sem cobranças.

Cozinha é um lugar "de verdade", de encontros, de participação. Um lugar de "FOGO, FOME E ALEGRIA", como diz o Rubens Alves naquela crônica belíssima, "Cozinha". (joga no google, vale a pena)

E quando alguma coisa que eu faço na cozinha dá certo, é mais uma pequena/grande coisa que me traz felicidade . Mais uma para a minha coleção !

1 comentário:

  1. Carlinha, concordo com vc!
    Cozinhar, na minha opinião, é um ato de amor.
    É fazer algo com carinho para todos aqueles que provarão a comida.
    ADORO!!!

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