quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

UM HOMEM APAIXONADO


O homem entrou na loja e perguntou sobre um shampoo da L´occitane. Tinha para cabelos claros ? Tinha.

Ele devia ter seus setenta anos. Era alto, magro e dono de uma elegância que só se consegue com a maturidade. Apesar de bem vestido com roupa social discreta e óculos de aro fino, o que lhe conferia elegância (e carisma) era a postura. Algumas pessoas sabem envelhecer sem se perder ao longo do caminho. Essas transmitem confiança e transpiram sabedoria sem dizer uma só palavra; elas compreenderam alguma coisa sobre a vida.

Ele me remeteu ao Rubem Alves, pela elegância e beleza (nessa ordem) e pensei que, como o Rubem, ele deve ter sido muito bonito quando jovem.

E então ele começou a explicar, bem humorado: que o shampoo era para sua esposa, que era loira “de verdade”, apesar dos muitos cabelos brancos de agora. Que ele tentara comprar o produto pelo site, mas estava esgotado, pois essa época do ano, sabe como é, tudo começa a faltar. E que, pesquisando pela Internet encontrou essa loja, a única da cidade que vendia a marca.

E depois da rápida demonstração da vendedora, decidiu: "Vou levar o shampoo e o condicionador. "É pra presente?” Era. Mas não presente de Natal, presente sem data mesmo, que ele gostava de fazer surpresas.

Esse homem me lembrou o meu pai. Quando ele e minha mãe fizeram 25 anos de casados, ele me pediu ajuda para escolher uma jóia pra ela. Eu me senti toda importante e nunca vou esquecer da alegria dele em poder comprar pra ela um presente especial. Nada o deixava mais feliz que fazê-la feliz.

E olhando aquele homem que parecia tão apaixonado pela esposa e feliz por lhe comprar um presente, eu pensei que quero um homem que olhe pra mim como meu pai olhava a minha mãe (como se ela fosse única no mundo); quero um homem que, depois de décadas de convívio, procure o meu shampoo preferido por sites e lojas e pague por ele uma fortuna com um sorriso nos lábios.

Foto: Rubem Alves

Sem comentários:

Enviar um comentário