sábado, 18 de dezembro de 2010

"Aquela viagem" ou "Como me apaixonei por um adolescente"

Há alguns anos, tive a oportunidade de ir para os Estados Unidos com uma turma de adolescentes. Foi assim: minha tia, que tem uma escola bilíngue em Recife, levava os alunos que estavam se formando (na época era oitava série, e agora ?) para passar três meses estudando numa escola de lá. Iam os que queriam e podiam pagar, claro. Nesse período eles estudavam numa escola regular, com estudantes americanos.  Um verdadeiro intercâmbio cultural.



Na época eu tinha vinte e cinco anos, dez a mais que eles, e quando minha tia me chamou para ir junto, não pude deixar de pensar: teria eu paciência para conviver com adolescentes (afinal, íamos morar todos na mesma casa). Mas além dessa minha tia ser a melhor pessoa do mundo para se conviver, ficaríamos todos na casa do meu primo (filho dela) e sua esposa na época, e eu era (aliás, sou) apaixonada pelo casal. Sem contar que eu sempre quis conhecer os Estados Unidos, amo viajar e o dólar estava a R$ 1,25. Então, depois de cinco minutos de hesitação, providenciei a papelada e paguei minha passagem à vista. Lembro da funcionária do banco ter me ligado: era pra descontar aquele valor do cheque mesmo ? Era.


Tive que ir sozinha e voltar sozinha, já que só dispunha de um mês de férias e eles já estavam lá, mas isso não foi nenhum problema: fiquei a viagem inteira conversando ( e dividindo a minha ansiedade) com uma passageira que já conhecia a Disney (é, o destino era a Flórida, mas especificamente San Petesburg) e fez questão de me dar todas as dicas. 


Naquela época eu estava sem namorado e  - o melhor - sem nenhuma pressa em arrumar um. E essa viagem era perfeita: ia para um lugar que não conhecia, mas sem essa coisa de pacote turístico, que não é a minha praia; estaria com a minha família, mas também conheceria gente nova (ainda que adolescentes) e  - talvez o mais importante - não faria apenas programas turísticos, conheceria um pouco da rotina da cidade.


Pra mim, conhecer uma cidade, seja Praia Grande ou Paris (que aliás, ainda não conheço) é (também) ir ao supermercado (adoro), à feira (adoro) e conversar com os moradores (a-do-ro). É claro que gosto de conhecer pontos turísticos, mas sendo bem sincera: nem todos, e nem o tempo todo. Sempre achei que a melhor parte da viagem é poder observar (e conhecer) as pessoas e os costumes locais, mas para isso é preciso tempo livre. Nada de tudo programado.


Mas voltando: cheguei e passei a fazer parte da rotina (movimentada) deles. Era assim: ia com Patrick e Elisabeth (o casal) levar  e buscar os meninos, e enquanto eles estudavam eu ia fazer o meu reconhecimento local (com Tia Lígia ou sozinha.)


Quase todos os dias íamos às compras, e frequentemente nos separávamos: fazer compras sozinha, sem nenhuma pressa e com dinheiro pra gastar, é apenas a melhor coisa do mundo. E não era aquela coisa de turista desvairada: dava pra conhecer bem as lojas e escolher tudo com calma. E o melhor: se você quisesse devolver a mercadoria, eles devolviam o dinheiro, sem questionar.
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Á noite íamos todos jantar, cada um contando como foi seu dia; íamos também (o paraíso) conhecer os Parques da Disney à noite e nos finais de semana. 


Ah, os adolescentes: eram nove -  sete meninos e duas meninas. Alguns mimados e reclamões, mas no final gostei (e me aproximei) de todos.  Era uma delícia acompanhar  (e conhecer) suas inseguranças, descobertas, temperamentos. Patrick, Elisabeth e eu tínhamos a mesma idade; dávamos boas risadas com as situações inusitadas que surgiam, e nos aproximamos muito nessa viagem. Foi Elisabeth a primeira pessoa a me falar de John Gray, o autor de "Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus". Os dois me falavam sobre a vida de casados, e se interessavam pela minha vida de solteira.


Eu podia acabar a história aqui, mas o melhor vem agora: um dos meninos me encantou. Ele parecia mais velho, tipo uns dezoito anos: moreno, de olhos apertados, cabelo bem curto e corpo perfeito, com abdomem tanquinho.  E o melhor era seu jeito de ser: ele não tinha consciência do quanto era gostoso; além de viril, era educado, divertido e, ao contrário dos outros, bem fácil de conviver. Mas como ninguém é perfeito, tinha orelhas de abano, que lhe renderam o apelido de "Dumbo". Não era nada demais, fazia parte do charme. Assim que percebi minha atração por ele, comecei a reprimi-la (afinal, ele tinha quinze anos !!!) Resultado: sonhava todas as noites com uma amiga minha  - mais liberada, digamos assim - o beijando na minha frente. 



Um dia, num dos parques da Disney, vi um Dumbo de pelúcia e não resisti: comprei pra ele. Nem me ocorreu que ele pudesse se ofender. Mas ele não só gostou, como no dia seguinte retribuiu, me dando um ursinho lindo que - acredite se quiser - tenho até hoje.


Na minha última noite lá, levamos os meninos para uma espécie de balada. Enquanto eles ficaram numa espécie de "boate para menores" (Fiquei chocada com a esfregação explícita que rolava entre os americanos) ,fomos eu, Patrick, Elisabeth tomar cerveja num barzinho ao lado.



Depois de um tempo, Dumbo abandonou o grupo e sentou do meu lado, em silêncio. Ficamos os quatro conversando até a hora de ir embora, eu toda orgulhosa dele ter trocado as menininhas pela nossa (ou minha?) companhia.



Não lembro como começou, nem quem tomou a inicitativa; só sei que em casa, depois que todos dormiram, nos beijamos. E antes que me atirem pedras: foram apenas beijos inocentes. Mas tão bons, que, três anos depois - ele com dezoito e eu com vinte e oito - nos encontramos e completamos o serviço.



No motel, entre as opções de divertimento (lingerie e brinquedos eróticos) havia também um ursinho rosa (nunca tinha visto urso em motel), que ele me deu na hora de ir embora, e que eu também teria até hoje, não fosse por um descuido. 



Perdemos o contato, mas fico a pensar que alguns homens parecem nascer sabendo do mais difícil: como conquistar uma mulher. É preciso que ela se sinta desejada, mas ao mesmo tempo amparada. Poucos homens percebem que ela PRECISA ser paparicada, PRECISA se sentir especial. Quando encontramos um homem assim, vale a pena controlar a vontade de pular no pescoço dele e deixá-lo tomar a iniciativa. Deixá-lo pensar que foi ELE quem nos conquistou, e não o contrário. Pensando bem, foi assim mesmo que aconteceu.

6 comentários:

  1. Que bom que gostou, Tatá ! E ...se minha mãe lê meu blog ? Não sei, você é minha mãe ?

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  2. Carla, estou passando por uma situação parecida... tenho 24 anos e estou apaixonada por um menino de 14. Ele não sai da minha cabeça!!! Nós trocamos olhares, e ele demonstra ter ciumes de mim com os outros garotos da turma, mais não consigo saber se ele também está apaixonado por mim ou se é só amizade. Não aguento mais reprimir esse sentimento e esse desejo de beija-lo, estou sofrendo por conta disso... não sei o que fazer :(

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