quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

SOMOS MUITAS

Na época do colegial (antiga eu, rs) eu era muito feliz, só que não sabia. Só me dei conta  disso anos depois.

Na verdade comecei a desconfiar dessa felicidade pretérita quando (no ano seguinte) comecei a fazer Direito na PUC. Eu me sentia um peixe fora d água lá. Com os estudantes "hippies" (ainda existe isso ?) eu me considerava Patricinha, e com as Patricinhas eu me considerava hippie. Rótulos me parecem cada vez mais precários, mas às vezes caio nessa armadilha. De qualquer  maneira, as  Patrícias e Maurícios da PUC sempre me entediavam. Todos pareciam ter saído da mesma fôrma: tão previsíveis, tão forçosamente políticos. Mas por que eu estou falando disso mesmo ?

Ah, por causa da felicidade do colegial. Lá eu não me considerava nem hippie nem Patricinha; fazia parte da turma das meninas, me dava bem com todas as outras turmas e começava a chamar a atenção dos homens.

Nunca vou esquecer do meu aniversário de 18 anos: eu estava no meio da aula de Física, super concentrada (péssima em exatas, queria passar no vestibular a qualquer custo) quando a secretária chegou com um pacote enorme, no meio da sala de cem alunos (as duas turmas do terceiro anos estavam juntas naquele dia ). O professor parou a aula e perguntou pra secretária, todo entusiasmado:

 - Presente, Meire ?
 - É pra Carla Bonfim !
Quase caí da cadeira. Peguei a caixa, completamente envergonhada e fui abrir lá na frente, sob os gritos da galera: "Abre, abre !"
Enquanto abria, perguntava para os meninos: "Foram vocês que aprontaram isso?"
E eles: "Não !" - um "não" convicto.
Então, quem foi ? 
Na caixa, descontos para motel, revistas pornográficas, dúzias de camisinhas e bexigas que imitavam  o órgão sexual masculino.
Eu, na minha ingenuidade (e  virgindade) , pensei que nunca usaria aquilo, e num gesto espontâneo virei para o meu professor e disse: "Olha aqui, presente pra você !"  - entregando as camisinhas. 
E a classe, em coro : "ô louco ! Ela está convidando !" A essa altura os meninos já estavam fazendo a festa com as revistas pornográficas.  E o professor (daqueles modernos que fazem piadinha sobre sexo na aula para os alunos não dormirem) me olhou, aceitou as camisinhas e deu risada, completamente sem graça.
Descobri em seguida que tudo aquilo foi obra da minha turma (das meninas) . Será que minhas amigas já viam a tarada que eu era ? (Se nem eu ainda sabia .... ) Enfim, uma das meninas (que é do time das minhas melhores amigas e  no episódio da camisinha disse "Aproveita que ela está convidando, professor !!") me disse ontem, pelo msn: " Eu li seu blog e você continua a mesma ! É isso ! Não deixa a Carla do colegial morrer !"E eu, no meu humor defensivo: " Você está dizendo que eu continuo a mesma namoradeira superficial  de sempre ?"
E ela, que já me acompanhou em altos (e muitos) baixos: "Não. Estou dizendo que você pode ser mulher, esposa, ex esposa, mãe, profissional e continuar com a mesma leveza de antes".

Eu parei pra pensar e fiquei feliz. Porque sim, eu continuo a mesma. Claro, não tão ingênua, não mais virgem (graças a Deus), mas na essência...aquela garota de dezoito anos. Pensei que não tem nada a ver essa coisa da gente vestir de um (só) papel na vida : a mãe sofredora, a exposa (ou ex esposa) dedicada,  a sexy simbol incansável, a profissional determinada. Não, não: somos todas essas e... nenhuma dessas. E é incrível como tem lugar pra todas.

Somos muitas.

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