terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

NEM TODOS DIZEM "EU TE AMO"



Deveria ser fácil dizer essas três palavrinhas mágicas.
Está com vontade de dizer? Diz: "Eu te amo".
Diz olhando nos olhos, diz baixinho no ouvido, diz, repetidamente, até que os mais inseguros e/ou carentes captem a mensagem: EU TE AMO, EU TE AMO, EU TE AMO, EU TE AMO.

Como naquela cena (inesquecível) do filme "Gênio Indomável", em que o terapeuta (Robin Wilians) repete ao paciente (Matt Damon) não um "eu te amo", mas um "it is not your fault" (não é sua culpa), até que ele entenda, aceite,assimile, interiorize: "não é culpa sua, não é culpa sua,não é culpa sua. Você foi uma vítima e eles (que lhe fizeram tudo isso) que se fodam". ELES QUE SE FODAM. Existe algo mais libertador do que "eles que se fodam"?
Não tem como não se emocionar com a catarse do personagem principal, que termina a cena chorando nos braços do terapeuta. Dá pra se colocar no lugar dele: "Então é assim, não é culpa minha, eu não sou aquele monstro que julgava ser? Posso parar de me punir, de fugir das coisas boas por achar que não mereço? Posso me entregar, amar, correr o risco de ser amado?"


Voltando ao "eu te amo" para o ouvinte carente ou inseguro: "Então é assim, você me ama? Jura, tem certeza? Diz que me ama! Repete!"
Repete.
Adoro a facilidade com que os americanos dizem" eu te amo". Dizem para um amigo, dizem para o filho, dizem para o amante, dizem no final do email, encerram escrevendo "love" antes da assinatura. A minha ficaria assim: "Love, Carla".
Podem dizer que a expressão ficou banalizada, que falar é fácil, que são apenas palavras, que pode não significar nada.
Ainda assim eu gosto. A propósito: Amo você, que lê esse texto.
Nunca esqueço a cara de surpreso de um amigo australiano, quando, ao nos despedirmos, soltei um espontâneo: "I love you" no seu ouvido. Foi aí que eu descobri que essa mania de "love" era só dos americanos. Ele falava inglês, mas não era americano e não deve ter entendido nada.

Falo "eu te amo" também para algumas amigas e alguns amigos. Falei recentemente para alguém com quem tinha uma relação de amor e ódio no trabalho. Ok, devo confessar que esse último teve ares de cantada. Um "eu te amo" usado para fins menos nobres.
Segundas intenções à parte, nada melhor que dizer "eu te amo" para um filho. Ou melhor, ouvir "eu te amo" de um filho.
O "eu te amo" mais libertador e mais sincero da minha vida foi o que eu disse para o meu pai antes dele partir. Foi a última coisa que ele ouviu de mim. Tenho orgulho desse momento bonito que vivemos.
Já dizer "eu te amo" , pela primeira vez, a alguém com quem você se relaciona amorosamente pode ser complicado. Como faz?
Você abre o peito e diz, ou espera ele dizer?
Você espera uma ocasião especial?
Você se prepara psicologicamente para uma resposta (ou reação) que não seja a esperada?
Você pensa antes de falar?
Mas esse não é o tipo da coisa em que NÃO se pensa antes de falar?
Hoje, mais do que nunca, eu admiro os homens que tiveram a coragem de me dizer "eu te amo" sem saber se eram correspondidos. (Eu me refiro aos que foram sinceros, naturalmente)
Porque não é fácil: quem diz "eu te amo" nessa situação pode até se sentir bem (e liberto) por ter expressado seus sentimentos, no melhor estilo "livre, leve e solto, mas é mais provável que depois de se expor, o sentimento seja de insegurança e vulnerabilidade, principalmente se a reação do amado não for a esperada.
Mas como saber?
Só dizendo.

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