quinta-feira, 14 de abril de 2011

SCRAP PARA O MESTRE



Valter Rodrigues foi meu professor de Psicologia na Casper Líbero. Toda semana ele tinha o desafio de prender a atenção de estudantes de publicidade ansiosos e arrogantes. Não preciso dizer que a tarefa não era nada fácil. A classe vivia em alvoroço, mas mesmo assim ele nos fazia pensar em suas aulas não convencionais.

Um dia sua  filha de 18 anos foi assassinada. Lembro da expressão dos olhos dele. Lembro dele nos pedir apoio, nos pedir um abraço. Lembro dele, meses depois,  muito estressado por causa das politicagens da faculdade. Enquanto eu o ouvia desabafar, lembrava de uma reportagem que havia lido sobre stress: o topo da lista era perder um ente querido.  O luto, portanto, seria a maior situação de stress para um ser humano. Em segundo lugar, o divórcio. Três anos depois, comprovei a teoria: quando meu pai morreu meu stress era tão grande que eu seria capaz de bater na Madre Teresa de Calcutá. Perdi amigos, emprego, sanidade. Me apaixonei, engravidei, casei, separei. Assim como a Liz Gilbert em Comer, Rezar, Amar, "tudo que eu queria era correr e só parar depois de chegar à Groenlândia". Maus tempos.

Mas voltando:  eu e Valter continuamos mantendo contato no mundo virtual. Fiquei muito feliz de ver que ele reconstruiu sua vida: casou de novo e tinha um filho pequeno.

Essa semana soube que ele morreu.

Visitei sua página no orkut. Um perfil cheio de fotos e recados. Como assim, morreu, como assim?

Deixei um recado pra ele. Escrevi, entre outras coisas, que ele me ensinou muito na sala de aula, mas a maior lição veio do seu exemplo de vida. Que quem consegue reencontrar a felicidade depois de prova tão dura realmente  merece ser feliz.

Depois fiquei pensando: eu não podia ter dito isso enquanto ele ainda estava aqui?

Mas também escrevi: "espero que minhas palavras e minha gratidão lhe alcancem, onde estiver."

Espero.

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