quarta-feira, 24 de agosto de 2011

BEAT ACELERADO



Uma vez, na revista TPM, uma repórter (que era a entrevistada) disse que a única maneira de dormir quando trabalhava como correspondente de guerra era beber até desmaiar. Algo como um litro de vodca. Depois era acordar, vomitar e voltar ao trabalho. E ainda deu a entender que essa era a rotina de toda a equipe. Entrevistas da TPM são mesmo imperdíveis. E relaxar depois de ver bombas explodindo e pessoas morrendo ao lado não deve ser mesmo nada fácil.

Feliz ou infelizmente, não existe em nós um “liga/desliga”. No máximo um “foda-se”, que pode ser muito útil, aliás, quando já não há nada a fazer. Mas ainda não inventaram a pílula – não que eu saiba - que nos faça desacelerar num passe de mágica.

E se não podemos contar com o “off”, como não encarnar o personagem do Michael Douglas em “Um dia de fúria”?

Claro que o ideal seria não chegar nesse estágio. A boa e velha atividade física ajuda. E também meditação, ioga, trabalhos manuais. Mas na hora do turbilhão cadê a disciplina, o cuidado, a organização? A criatividade? Vai tudo para o ralo, junto com o tal do equilíbrio.

E não é todo mundo que tem a sorte de ter um parceiro que chega nessa hora com um chocolate, um beijo, ou certa paciência com a nossa choradeira. Não é todo mundo que tem uma filha de cinco anos que diz “vem cá, que eu vou fazer um desenho pra você” e penteia seus cabelos enquanto descreve sua semana do “fonclore” na escola (e com aquele hálito delicioso de leite, exatamente como quando ainda era bebê)

Aliás, pode acontecer que justo naquele dia em que você não devia ter saído da cama, seu eleito esteja meio distante, ou simplesmente tão cansado quanto você e não perceba sua carência, nem seu cabelo novo. Um abraço já seria meio caminho andado, mas você, do planeta Vênus, está tão sobrecarregada que não consegue pedir. Pode acontecer também que sua filha esteja birrenta, exigindo toda sua atenção, enquanto tudo que você quer é correr até chegar na Groenlândia ou simplesmente assistir qualquer bobagem na TV que a faça parar de pensar.

E agora, José? Tudo bem que se fosse fácil, não teria a menor graça. Mas precisa ser tão difícil assim?

2 comentários:

  1. Como sempre muito bom os seus textos. Me faz reletir.
    Refletindo: *Secretamente* nem sempre quero que o namorado repare o meu cabelo, na insegurança de ele não achar tão bonito assim, ou fico feliz com a birra da criança (não filha, no meu caso. Afilhada talvez), por que orgulho da personalidade dela. Acho que o caminho das pedras é não pensar no que poderia ser (e se eu tivesse um botão de desliga...). É brutal viver de "se". Podemos -tentar- ser felizes com oque temos.
    Odeio TPM! Além de tudo fico conformista! hahahaha

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  2. Tem razão. Viver de "se" e de "dever ser" não é apenas brutal, é cruel também. Mas meus devaneios nunca me obedecem...Bjs!!! Carla

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