terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

"Patrícia" ou "Quando ele não se importa"

Muitas pessoas que aparecem no Ministério Público querem apenas atenção. Nesses casos nada podemos fazer a não ser ouvi-las e encaminhá-las ao lugar correto para atendimento.

Patrícia é uma dessas pessoas: aparenta quarenta e poucos anos, tem aspecto sofrido e briga pela guarda da filha. Sua saúde mental também é discutivel. Como a trato bem, toda semana ela arruma uma desculpa para falar comigo.

Hoje ela apareceu no exato momento em que eu não conseguia atenção de uma pessoa específica; eu me sentia angustiada e carente, sem ter uma razão lógica para isso. Havia tentado uma comunicação que se revelou infrutífera o dia inteiro, e quando ela chegou eu estava no auge da minha irritação. Fui fria:  expliquei que não poderia ajudá-la, seu problema não era da minha alçada. Ela que se dirigisse ao departamento competente, como eu já havia explicado diversas vezes anteriormente.

Meu lado racional ficou satisfeito, afinal, eu havia sido profissional. Mas meu coração ficou um pouco triste.   (ele é muito mais sábio que a minha mente e mesmo sabendo disso, às vezes teimo em não ouvi-lo)

É que meu coração sabe que eu tenho cinco minutos para ouvir essa mulher. Eu tenho. E ele sabe também que se eu parar para ouvi-la (da mesma forma que páro para ouvir minha filha quando ela faz birra) a angústia dela vai se dissolver e - pasmem! - a minha também. E assim  ele - meu coração - vai poder se abrir para receber o apoio de que precisa. (eu li em algum lugar: se você teima em procurar apoio em um único lugar  - ou em uma única pessoa - e não consegue, então você está procurando no lugar errado)  E assim eu comecei a me sentir como se tivesse desperdiçado uma grande oportunidade.

Fiquei a pensar como esse "apoio" de  que  precisamos pode estar em todos os lugares, desde que a gente se permita recebê-lo. E me dei conta de que mesmo que você não tenha loucos que precisem de você no seu trabalho, ou uma criança de cinco anos que corra pra lhe abraçar quando você chega em casa, ou ainda uma roda de capoeira,  um blog pra escrever, um amigo com saudades; mesmo sem tudo isso, se seu coração estiver receptivo, o cara da recepção vai dar um tchau mais caloroso, o chefe vai oferecer carona, o amigo vai ligar. E você vai se sentir melhor com essas "pequenas grandes coisas", porque no final das contas todos  queremos ( e precisamos de, e merecemos) atenção.

Mas eu só pensei em tudo isso depois.

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