sexta-feira, 5 de novembro de 2010

MONTEIRO LOBATO E A BONEQUINHA PRETA


Essa polêmica envolvendo o Monteiro Lobato me lembrou um episódio.



Situando: O Conselho Nacional de Educação propôs que o livro "Caçadas de Pedrinho"(1933) deixasse de ser distribuído nas escolas públicas por considerar preconceituosas certas referências à personagem Anastácia, como "macaca de carvão" e "de carne preta" (ou algo assim).



Às vezes acho essa coisa de politicamente correto um saco, mas admito que essas expressões meio que me chocaram. O que não significa que eu concorde com a censura. De qualquer maneira, uma contextualização por parte dos professores se faz necessária. Os tempos mudaram, nesse caso para melhor. Racismo é crime.



Mas vamos ao episódio: estava eu namorando a vitrine de uma lojinha muito charmosa, perto da minha casa, que (infelizmente) não existe mais. Na vitrine havia uma boneca de pano negra, com os cabelos fartos, encaracolados e cheios de lacinhos coloridos. A coisa mais linda do mundo, com os bracinhos abertos, parecia me dizer: "Leve-me com você". Parênteses: sou apaixonada por bonecas de pano. Tão apaixonada que (juro) quando a médica olhou meu ultrasom e disse que eu esperava uma menina, meu primeiro pensamento foi "Vou comprar uma boneca de pano". (eu juro !)



Mas voltando: eu me encantei com aquela coisa fofa e perguntei para a vendedora: "Quanto é a boneca ?" E ela : "Qual?" E eu : " A pretinha". E ela: " Ah...(pausa)...Espera um pouco por favor, que eu vou ter que perguntar para a gerente que está lá do outro lado. Você entende, né ? Eu não posso falar alto: Quanto é a boneca preta ?"

Não, não entendo. Fiquei imaginando a cena, ela virando para a gerente e perguntando "Quanto custa a boneca afro-descendente ?"



Bom, do preço eu não lembro, só desse diálogo surreal. Lembro também que não comprei a boneca e me arrependo até hoje.

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