quarta-feira, 12 de maio de 2010

BLIND DATE







Conheceram-se através de um site de relacionamentos na internet.
Justo ela, que nunca adicionava desconhecidos.
Dessa vez adicionou.

Um comentário aqui, um scrap acolá, foram se aproximando.
E-mails, e-mails, e-mails.
Até virar hora marcada: ele acordando pra falar com ela, adequando-se a seus horários malucos.
Ela esperando o dia passar para correr para a frente do computador.
E dá-lhe assunto, risadas, confidências.
Um bate papo melhor que o outro.
Histórias.

Até que não dava mais pra esperar: ele queria conhecê-la, encontrá-la.
E o medo ?

Dele gostar dela, dele não gostar dela;
Dela gostar dele, dela não gostar dele.
Dela se decepcionar, dela se apaixonar.
Então ela - justo ela - que jurou JAMAIS ter um encontro desse tipo, topou.
Topou.


Ansiedade.
Frio na barriga.
Encanações.

Mas, primeiro: encontrar-se-iam num lugar público. E um lugar que ela gostava.
Segundo: se não rolasse a tal da química, não faltaria assunto para os dois.
Conversavam até altas horas no MSN !!
A formação acadêmica.
Os empregos.
As viagens.
Os filhos.
O casamento, a separação.
Histórias.
Era assunto que não acabava mais.

A mesma idade, alguma maturidade.
Seja lá o que isso signifique.

Tomaria uma cerveja com um cara inteligente que sabia conversar, fazer rir.

Se ele fosse uma drag queen, ela tomaria uma cerveja mesmo assim.
Se ela fosse um japonês de pinto pequeno, ele a largaria na estrada.
Fechado.

Mas se rolasse um clima, melhor ainda.

Ela tinha visto fotos, não achava ele bonito.
Mas achava interessante, muito interessante.
Já estava envolvida, pensou que o conhecia.
Como dar errado ?
Um bate papo que já aconteceu tantas vezes ?

Mas deu.

Ele não era uma drag queen, mas era muito diferente daquele cara com quem ela trocava e-mails.

Não na aparência, que - de novo - não importava, mas na personalidade.

Ela o esperava no café, com seu melhor sorriso. Sentia-se bonita e bem humorada.

Mas ele chegou - e ficou - de óculos escuros o tempo todo, como que impondo uma distância.
Quando chegaram ao destino - uma feira badalada de artesanato - ele ia andando na frente, sem se importar se ela queria parar pra ver alguma coisa, pra onde olhava, se ficava para trás.

E ela ? Também não era um japonês de pinto pequeno, era ela mesma.
De quem ele também não gostou, ou, se gostou, não soube demonstrar.
O que - vamos combinar - dá na mesma.

Nem que ela viva cem anos: não vai entender.

Um cara sempre tão gentil ( e interessante) por e-mail, no (único) dia que passou com ela, ficou o tempo todo de óculos escuros, meio distante, falando de assuntos que não a interessavam nem um pouco.

Mas o dia estava lindo, a música perfeita e a cerveja gelada.

E ela, que tinha planejado não ficar com ele de cara, ficou.
Pra não perder a viagem, pra desobedecer a si mesma.
Porque tinha tomado uma cerveja, porque não corria o menor risco de se apaixonar.

E porque - sabia - nunca mais ia falar com ele. Nem por e-mail.



5 comentários:

  1. hauiahiuahiuahuia
    Muito bom,
    Carlinha e o pior que e assim mesmo que acontece.

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  2. VOCÊ CONTINUA ESCREVENDO ÓTIMAS HISTÓRIAS...
    ADOREI... BJ.......

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  3. Como pode ser "blind date" se é sempre tão parecido pra todo mundo... deveria chamar-se "obvious date". Mas tem um pouquinho de ficção exagerada aí... não tem não?!?!? não deve ter sido tão mal assim...se a cerveja estava gelada...

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  4. Talvez eu tenha pegado um pouco pesado...
    Mas só rindo, né ?
    Quem é vc ?

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